a culpa não é do Martim



Antes de mais, parabéns completamente livres de sarcasmo ao Martim que lançou a Over It e segundo o que se conta está a ter sucesso. A sério, teve uma ideia, pediu à Maudlin Merchandise que fizesse o produto, os pais forneceram o capital para pagar, tinha amigos que o ajudaram a comprar e divulgar e tem os justos frutos do seu esforço.

Estamos entendidos em relação à minha intenção não ser mandar abaixo o rapaz?

Então, parece que esta conversa presente no vídeo aconteceu ontem no programa Prós e Contras e hoje explodiu na blogosfera e nas redes sociais cá em Portugal. Antes de mais o que aqui acontece é um típico clipping que corta a conversa no ponto em que dá jeito aos objectivos de quem o fez. Acho que quem quer ter uma visão justa deste assunto devia ver pelo menos o início e o fim desta intervenção (http://www.rtp.pt/play/p1099/e117833/pros-e-contras).

Ao que parece se entendermos o vídeo como o seu "produtor" quer que interpretemos, a Raquel Varela, autora do livro Quem Paga o Estado Social em Portugal?, decidiu deitar abaixo o jovem empreendedor de 16 anos Martim e este tal David desferiu um golpe de misericórdia no Golias académico e é aplaudido pela plateia jubilante.

O que acontece é que por muito despropositada e eventualmente rude que seja a interrupção, porque de facto as t-shirts de que estamos a falar são produzidas em Portugal e dando de barato que não é responsabilidade do Martim, os salários que a empresa que lhe presta os serviços paga aos seus trabalhadores (apesar deste lavar de mãos não ser muito ético), a resposta que ele dá só é desculpável num rapaz de 16 anos, que ainda não tem o espírito crítico para desmontar uma ideia propagandista, que nos está a ser vendida há vários anos. Se o Martim fosse mais velho dizia que era uma resposta imbecil e bacoca, nestas circunstâncias limito-me a dizer que os aplausos à resposta não foram merecidos, nem reflectidos.

Qualquer pessoa que tenha lido ou discutido sobre a psicologia de massas, sabe que aqueles aplausos não se deveram à genialidade da resposta, mas sim um misto do ódio nacional a tudo o que é licenciado, mestrado, doutorado e pós-doutorado (o "cisma académico" que explica o porquê de tantos jovens licenciados estarem no desemprego actualmente), da nossa tendência para a defesa da parte que nos parece mais fraca e de uma tendência para a imitação inconsciente de dinâmicas de grupo (acredito que naquele público estejam pessoas que realmente acreditam na ideia e que a queiram impingir aos outros).

Pelo menos é nisso que quero acreditar, porque não quero pensar que os meus compatriotas, estejam convencidos que é melhor salário mínimo que desemprego, pelo menos do ponto de vista social. A não ser que nunca tenham ganho o salário mínimo e tentado sobreviver com o mesmo, ou que acreditem que temos futuro se a esmagadora maioria da população não tiver capacidade de consumo, ou mesmo, de subsistência básica. Ou então muitas pessoas ainda não perceberam que o verdadeiro objectivo do "é melhor que nada", que é impor a resignação às pessoas de forma a que elas não sintam a necessidade de lutar, contra um modelo anti-social que lhes estão a querer impor.

Aliás, isto e o "antes falsos recibos verdes que o desemprego" (que ainda é pior que ao menos o salário mínimo dá alguns direitos como o subsídio de desemprego, a baixa por doença, etc...), são ideias que me fazem sempre pensar que a próximas máximas serão, "antes trabalhar de graça que o desemprego" e mais à frente, caso o percurso não seja interrompido, "antes pão e tecto que o desemprego", ideia praticada durante milénios sob a nomenclatura de escravatura, ou o regresso do "antes pagar para trabalhar que o desemprego", que durante a idade média conhecíamos como feudalismo.

Escrito isto, gostava que considerassem se devemos continuar a bater palmas...

proteger o que é bom?


A Tetra Pak faz 50 anos e quer marcar a data e a sua agência de comunicação Pepper sugere que se faça um concurso publicitário para desenhar uma embalagem comemorativa. E o vencedor do concurso terá um prémio como é costume...

Até aqui a história parece igual a tantas outras mas ao lermos o regulamento qual não é o nosso espanto ao verificarmos que o prémio é um "estágio no valor total de 750€", ou seja, o prémio por um trabalho é a "oportunidade de aprender a trabalhar", com as despesas de trasnportes e alimentação pagas.

Obviamente, numa altura em que o mercado de trabalho na área do design é assolado pelos estágios não remunerados feitos uns a seguir aos outros, ou com sorte pelos "full-times a falsos recibos verdes" com direito a horas extraordinárias e fins-de-semana no escritório, este "prémio" causou imediatamente uma gigantesca onda de indignação no Facebook. Não porque seja a primeira empresa a fazer uma proposta destas mas pela dimensão da empresa em questão.

A Tetra Pak como muitos saberão e a própria lembr na página do concurso e nos press releases divulgados pelos media, é uma multinacional de origem sueca com 50 anos no mercado global. Não é uma empresa qualquer, não é uma PME que apresenta prejuízos no IRC ao final do ano e por isso faz o que pode para se manter em actividade.

No entanto, seguindo um mau conselho da sua agência de comunicação, que quer recutar mais um estagiário não remunerado para trabalhar, decide que é boa ideia fazer este concurso e dar uma "bolsa de estágio" a uma pessoa maior de 18 anos e residente em território nacional que até "faça umas cenas de design" e que após selecção de jurí seria escolhida pelo número de "amigos" que conseguir angariar para votar na sua proposta na página do Facebook Protege o que é Bom.

Após a percepção do buzz negativo que esta proposta gerou ainda existiram tentativas de minimizar os danos.

Afinal o design pedido não era para uma embalagem comemorativa dos 50 anos a ser produzida! Tratava-se apenas e só de uma imagem para ser usada no Facebook, ao contrário do que os media tinham divulgado através do press release (como podem ler no site do Imagens de Marca) explicitavam. Então para que é que o concorrente precisava de enviar artes finais em qualidade de produção (imagens em 300 dpi's em formato A4 do projecto)?

Surgem depois justificações dizendo que o prémio era independente do estágio, ou seja, só aceitava o estágio quem queria! Assim 750€ para uma imagem de Facebook já era um senhor prémio e já daria compensação mais que suficiente, não fosse essa afirmação uma mentira, como novamente o contéudo das notícias prova, mas que a própria imagem entregue aos media (que acima reproduzo) que desmente claramente pois nela se lê "habilita-te a ganhar um estágio de 750€".

Finalmente, hoje perto da hora do almoço, veio a notícia na página da Tetra Pak, que tinham decidido cancelar o concurso temporariamente para "rever as suas bases e clarificar os seus objectivos".

Todo este caso, igual a tantos outros "escândalos" que rebentaram nas redes sociais em Portugal nos últimos tempos, deve servir de case study para os departamentos de Marketing das empresas portuguesas ou filiais nacionais.

Primeiro que tudo para um valor que os marketeers portugueses descuram, Brand Respectability, ou seja, a reputação da marca e os efeitos que a mesma tem nos consumidores. A reputação de uma empresa/marca depende não só da qualidade do produto ou serviço, da comunicação pré e pós-venda, mas também da responsabilidade social e ambiental que a mesma pratica (ou não), ou seja, da ética da marca.

Neste caso, as decisões e inconsequência da agência de comunicação e dos responsáveis de marketing da Tetra Pak em Portugal, colocaram em causa a reputação de uma marca mundial e quintagenária. Até certo ponto, ao contrário de outros casos semelhantes em que o buzz negativo não provocou reacções de monta, provavelmente é a escala da marca que leva à retirada do concurso. Não seria uma especulação impensável, suspeitar de uma intervenção da "empresa-mãe" após alguma denúncia, sobre a polémica que se estava a instalar.


Falo de ética e reputação, pois de facto os estágios até 3 meses não são legalmente, obrigados remunerados, apesar de na prática os mesmos não serem tão livres como as empresas nacionais acham e obrigarem na mesma a assinatura de um contrato e a respeitarem várias normas legais (podem consultar o decreto-lei em
http://juventude.gov.pt/
Eventos/EmpregoEmpreendedorismo/Documents/decreto-lei_66_2011.pdf).

Mas ser legal não equivale a ser ético e a oportunidade de trabalhar de graça nunca pode ser eticamente considerada um prémio, quando muito é um nada melhor que pagar para trabalhar, que é o que realmente acontece num estágio não remunerado, pois o estagiário tem de pagar transportes e alimentação para estar no estágio.

Retira-se também deste caso, mais uma vez, o poder das redes sociais que ao darem voz ao índividuo, mostram mais uma vez que as empresas (especialmente aquelas que dependem do sacrosanto consumidor) devem ter muito cuidado com as consequências que pequenas decisões de poupança, à custa dos direitos laborais dos seus colaboradores e da negação da responsabilidade social, podem ter em termos da sua reputação e em última instância, nos seus lucros futuros.

PS: Numa análise mais umbiguista mostra-nos a nós, criativos das mais variadas espécies, que a união de esforços e a pressão que podemos exercer quando unidos, são a melhor forma que temos para lutar contra a exploração e as injustiças, que defrontamos no mercado. Só unidos conseguimos, pôr alguma ordem nesta selva dos estágios, falsos recibos verdes e honorários de miséria e com isso saímos todos a ganhar, os que já estão no mercado e os que estão ainda a tentar furar.

São de louvar esforços sem ganho como o do site Ganhem Vergonha, que denuncia ofertas de emprego ilegais e sem ética.

aventuras do apoio jurídico II


Para quem me conhece e me vai seguindo nos últimos anos saberão que já no passado escrevi sobre um processo no Tribunal de Trabalho para reclamar de quase 2 meses de trabalho que era para ser remunerado e acabou por não ser (processo que entretanto foi ganho mas por a empresa estar em nome da filha do verdadeiro dono ainda não houve pagamento do valor definido pelo tribunal).

Talvez se lembrem que na altura ao pedir apoio jurídico à Segurança Social, a primeira resposta que tive foi um pedido de uma declaração de honra em como não tinha bens nem capacidades que também transcrevi aqui, pelo ridículo que me pareceu.

Infelizmente passado pouco mais de um ano do fim desse processo vejo-me obrigado a entrar com um novo processo, desta vez noutra vara jurídica pois trata-se de uma dívida de honorários por serviços prestados a uma empresa com quem trabalhei mais de 2 anos. O meu objectivo desta vez é que a empresa se sinta pressionada a pagar aquilo que deve amigavelmente, e de facto já me pagaram uma parcela da dívida, tendo no entanto já falhado no cumprimento do prometido e mais uma vez me deixado sem resposta aos novos contactos.

Assim, após apresentação do pedido de apoio jurídico recebi mais uma pérola desta vez com a seguinte indagação a que teria de dar resposta: “explicitar como faz face às despesas diárias e qual o valor de rendimento do agregado familiar”.

Fica em baixo a minha resposta que penso que merece ser partilhada para servir de exemplo, acrescentando que após o envio da mesma já tenho reunião marcada com a advogada oficiosa que a Ordem me designou, de forma a dar andamento ao processo.

"Lisboa,

25 de Março de 2013

Exma. (omitido),

Escrevo-lhe no seguimento do pedido de esclarecimentos adicionais relativo ao pedido de proteção jurídica por mim apresentado e referenciado com o nº (omitido), de forma a clarificar “como faço face às despesas diárias e qual o valor de rendimento do agregado familiar”.

De facto a indagação é bastante pertinente mas infelizmente é uma questão com a qual acabo por me debater recorrentemente desde que iniciei a minha vida activa.

Como poderá verificar pelo requerimento, encontro-me desempregado e caso confira os meus dados da Segurança Social, não tenho, nunca tive e não vislumbro ter no curto/médio prazo, qualquer subsídio por parte da Segurança Social, seja de desemprego, Rendimento Social de Inserção ou outro, apesar de ter sempre contribuído de acordo com o estabelecido pelos diferentes Códigos Contributivos dos últimos anos.

Tendo isto em conta, a resposta para esta indagação é a mais simples de todas. Faço face às despesas diárias através da eliminação quase total de qualquer tipo de despesa diária. Como povo costuma dizer “quem não tem dinheiro, não têm vícios”, apanágio pelo qual me tenho guiado desde que me conheço enquanto indivíduo.

Às despesas, que são inevitáveis pelo simples facto de existir numa sociedade em que até os bens mais essenciais de todos, como a alimentação e a hidratação, são alvo de exploração económica, faço face às poucas despesas que tenho utilizando o pouco dinheiro que consegui poupar do meu último trabalho por conta de outrem, que infelizmente foi remunerado e tratado legalmente como se de trabalho independente se tivesse tratado, tendo a empresa fugido aos trâmites legais previsto no Código do Trabalho e às contribuições à Segurança Social previstas no Código Contributivo.

A questão do agregado familiar, é também facilmente respondida pela consulta dos meus dados na Segurança Social. Como poderá verificar há mais de meia década que abandonei o agregado familiar dos meus progenitores e não consegui pela falta de possibilidade económica, constituir o meu próprio agregado familiar, apesar do meu desejo nesse sentido. Mais informo que não resido em casa dos meus pais, caso indagasse sobre uma eventual obrigação não prevista legalmente, de ser ajudado pelos mesmos.

Aliás o meu próprio pai foi obrigado a emigrar, devido a ter caído no desemprego, depois de anos de trabalho esforçado, muitas vezes em detrimento da vida familiar (o que em última consequência contribuiu para a sua separação da minha mãe), ter sido dispensado pela empresa, que provavelmente terá achado mais atractivo, contratar 2 ou 3 estagiários gratuitos ou trabalhadores a falsos recibos verdes, como se tem tornado prática no nosso país.

No entanto, como presumo que essa questão tem como intuito saber onde e com quem vivo, posso acrescentar-lhe que tenho tecto sobre a minha cabeça graças à solidariedade da família da minha companheira, que me deixa viver em casa da família sem retribuição monetária. De notar que apesar da utilização do termo companheira, não tenho qualquer ligação legalmente válida com a mesma, tendo em conta que não temos ainda o direito a pedir união de facto, com os direitos e deveres legais e os benefícios fiscais que a mesma acarreta.

Depois desta exposição da minha vida privada (que poderia considerar abusiva mas que por ser um cidadão cumpridor e orgulhar-me de viver uma vida transparente e ética, pouco me incomoda), que espero ter sido esclarecedora, apraz-me esclarecer que este pedido de Apoio Jurídico está intrinsecamente ligado com a necessidade de “fazer face às despesas diárias”, passando a explicar melhor esta ironia suplementar.

Acontece esta necessidade de intervenção por parte da justiça, decorrer do facto de um cliente para o qual trabalhei no passado ano como prestador de serviços, estar há vários meses e mesmo após todas as tentativas de resolução amigável, a dever-me honorários relativos a serviços prestados. Desta forma como pode perceber, o meu pedido de Apoio Jurídico justifica-se como forma limite de ser ressarcido por esses serviços, de forma a poder “fazer face às despesas diárias”, até encontrar um novo trabalho quer como trabalhador independente, por conta de outrem ou, como é infelizmente o mais provável, como falso trabalhador independente, numa qualquer empresa sem respeito pelas leis e sem ética.

Penso ser de valorizar o facto de em detrimento de pedir apoio da Segurança Social, vulgo Rendimento Social de Inserção, ao qual teria direito legal e ético, pedir em alternativa, o cumprimento do meu direito constitucional de Acesso ao Direito, patente nos pontos 1 e 2 do Artigo 20º da Constituição da República Portuguesa, e reforçado pela Lei de Protecção Jurídica, que inclusive é citada no pedido de esclarecimento ao qual esta carta pretende satisfazer.


Com os meus melhores cumprimentos,
Tiago Miguel dos Santos Almeida"

VOA 2012

From Up The Poppy Hill



Kokuriko-zaka Kara ou From Up The Poppy Hill é o último filme dos estúdios Ghibli, com argumento de Hayao Miyazaki e Keiko Niwa e realizado por Gorō Miyazaki (sim é filho) que já tinha realizado Tales From the Earthsea em 2006.

Depois de 2 filmes inspirados em histórias ocidentais, Ponyo e The Secret World of Arrietty, Myazaki volta a uma história nostálgica sobre o Japão da segunda metade do século XX, com contornos românticos que em Portugal associaríamos à literatura de Eça de Queiroz, misturados com ingredientes de "idade da inocência" que já fazem parte do seu léxico dramático desde a Heidi e o Marco. Não é um argumento com muitas reviravoltas nem especialmente original mas consegue imprimir ao filme uma grande carga emocional que conjugada com a excelente direcção de arte torna o filme mais um clássico instantâneo.

O filme estreou no Japão em Julho de 2011 e passou por França em Janeiro deste ano, no entanto está previsto para os EUA apenas em 2013 e como normalmente os filmes Ghibli só cá chegam por importação norte-americana (isto se chegarem), não me sinto muito mal em recomendar que façam uma busca pelo torrent com o nome japonês e vejam se no titulo falam em eng subs ;)

E depois logo compram o Blu-Ray quando sair lá para 2013...

o fim da solidariedade



No início desta semana o Álvaro assinou com um cafuné de Pedro Mota Soares, um acordo com a Segurança Social, que dita que os auferintes do RSI e desempregados podem ser requisitados por câmaras, protecção civil e administração interna, para fazerem trabalho de limpeza e protecção das florestas. Isto a troco no caso dos beneficiários de RSI de um pagamento adicional de cerca de 420€ e no caso dos desempregados de uma majoração de 80€ ao seu subsídio (e quem não recebe subsídio?).

Basicamente o governo pretende matar dois coelhos de uma cajadada, pôr um lado arranjar funcionários públicos a custo reduzido (salário mínimo nacional ou menos no caso de quem receba subsídio de desemprego calculado com base no SMN) e sem ter de estabelecer qualquer vínculo laboral e por outro pôr os "parasitas, preguiçosos e indigentes" (usando as nomenclaturas liberais) a trabalhar. Se não quiserem aceitar estes trabalhos forçados então que se amanhem sem os subsídios e assim o estado poupa umas maquias...

Incrivelmente até agora não vi nenhum comentador quer de esquerda quer de direita a tecer uma opinião sobre este acordo que na minha opinião é de uma falta de ética gritante e de moralidade questionável.

Primeiro que tudo em relação aos desempregados estamos perante mais um ataque ideológico ao Estado Social, sem paralelo em qualquer país do mundo, mesmo os mais liberais e amados desta corrente neo-liberal que nos governa actualmente. O subsídio de desemprego não é uma ajuda do estado ao trabalhador, o subsídio de desemprego é um seguro social pago pelo próprio trabalhador ao longo da sua carreira contributiva à Segurança Social (dai o nome) e dai não poderem haver mais contrapartidas à sua atribuição além das regras que foram acordadas em sede do Código Contributivo.

Li em comentários ao artigo, que neste momento o dinheiro das contribuições não chegaria para cobrir as despesas da Segurança Social, o que não passa de uma mentira mal informada ou mal intencionada. Em Janeiro de 2012 o excedente da Segurança Social cifrou-se em 315 milhões de euros (o aumento esmagador do desemprego levou a uma quebra de 428 milhões de euros nesse excedente) o que significa que a Segurança Social continua e continuará a ser 100% financiada pelos trabalhadores (a não ser que a situação ainda seja mais agravada pelas políticas para lá do memorando que são apanágio deste governo). Infelizmente algumas pessoas confundem previsões de ruptura na sustentabilidade da Segurança Social a médio/longo prazo (caso nada seja feito para corrigir a situação) com a realidade do presente.

Por outro lado li quem afirmasse que as contribuições do trabalhador não pagavam nem metade dos subsídios que pode auferir. Esta é uma afirmação que demonstra acima de tudo iliteracia financeira, pois quando fazemos um seguro privado a uma casa também não pagamos em prémio o valor total da mesma. Os seguros são feitos partindo do princípio que a necessidade de reembolsos é limitada a uma percentagem pequena do total de segurados. No caso de uma casa apenas uma pequena percentagem de casas seguradas é alvo de incêndio/inundação ou outras catástrofe que requeira à seguradora o pagamento do valor segurado. Em termos de Segurança Social parte-se do principio que o desemprego é uma ocorrência limitada (não é suposto haver valores de 15% de desemprego numa economia ocidental moderna e democrática) e que a esmagadora maioria dos trabalhadores não irá accionar este seguro contribuindo assim para a cobertura dos subsídios necessários.

Assim sendo temos um governo que pretende colocar o dinheiro da Segurança Social ao serviço de funções do estado que devem ser cobertas por outros impostos. Sinceramente duvido da legalidade deste acordo no que toca aos desempregados e estou certo da imoralidade de colocar o "trabalho socialmente útil" como contrapartida a um subsídio que é direito legal e moral do trabalhador.

Já em relação aos usufruintes de RSI a questão entra mais no campo dos valores e ideais. Na minha opinião sendo um "subsídio solidário" não devem existir quaisquer contrapartidas à posteriori à sua atribuição, se a pessoa não tem rendimentos e cumpre todos os requisitos à sua atribuição então deve ter direito ao mesmo sem mais adendas ou vírgulas. A solidariedade supõe que se presta auxílio ao próximo sem esperar nada em troca, a solidariedade não é um empréstimo nem pode ter facturas escondidas.

Penso que se este governo é anti-solidário deveria acabar com o RSI e instaurar um empréstimo social, em que quem cair na desgraça e tiver de pedir ajuda ao Estado fica sujeito às regras de retribuição que o estado lhe aprouver definir. Ai sim, o beneficiário do empréstimo teria que aceitar qualquer trabalho ou forma de compensação que aceitasse no acto do seu pedido de auxílio.

Por fim, penso que a frase «os desempregados poderão recusar a proposta "caso se tratem de actividades não compatíveis com a sua capacidade física, qualificação ou experiência profissional», revela resquícios de um pensamento elitista e de diferenciação social de classes que remonta ao tempo do outro senhor. Se quisermos ser populistas podemos dizer que isto é a cláusula para que as "pessoas de bem" não sejam obrigadas a fazer desmatações e outros trabalhos pesados. Se quisermos mesmo ser excessivos podemos traçar um claro paralelo com o esclavagista que via os dentes e apalpava os músculos do escravo que ia comprar, para decidir se o comprava e para que trabalho o ia usar...

matar o bicho


A Maudlin Merchandise decidiu fazer um pequeno concurso para produzir amostras de serigrafia em grande formato e apeteceu-me matar o bicho dos concursos.

São apenas pequenas actualizações em trabalhos que já tinham no portfolio mas se gostavam deles e ainda gostavam de me dar a oportunidade de os ver produzidos, basta fazerem um like e partilharem no Facebook o link de algum deles.

Álbum do concurso
https://www.facebook.com/media/set/?set=a.10150773904067377.389083.179192597376&type=1

1 de maio


© Rogério Neves

Já muito foi, está a ser e será dito sobre a campanha de desconto de 50% que o Pingo Doce decidiu fazer no Dia do Trabalhador.

A mim nem me espanta muito o caos gerado numa altura em que, mesmo quem não passa pelas dificuldades do desemprego ou de um salário mínimo nacional, está num constante pânico devido à realidade de uma crise, mas mais gravemente a uma estratégia propagandista do actual governo, que tudo faz para culpabilizar os cidadãos pelo estado de coisas e para instigar um clima de medo, de forma a controlar as sublevações e a indignação social.

Nem de propósito Passo Coelho discursa na manhã deste 1º de Maio, avisando os portugueses para que eles se preparem para viver com um desemprego nunca antes visto. Este discurso negativista e desmotivador, visa claramente incutir nos trabalhadores, descontentes com a perca ou a ausência de direitos, um sentimento de resignação motivado pelo receio de perderem o trabalho e remunerações que ainda têm, numa altura em que o mercado de trabalho se encontra numa disfuncionalidade, de que ninguém nascido após os anos 70 do século passado se recorda.

Voltando ao Pingo Doce e sem falar de assuntos que terão de ser analisados pelas autoridades competentes (ASAE e Autoridade para as Condições do Trabalho), esta promoção decidida para o dia em que decorreu, é de um significado simbólico muito grave.

Além todas as pressões e chantagens, que foram denunciadas pelos sindicatos e trabalhadores, para negar o direito ao feriado a quem já tinha decidido que o iria gozer, o Pingo Doce decidiu criar um dia de inferno para os seus trabalhadores, o que para aqueles que não trabalharam de livre iniciativa, se tornou um duplo castigo.

Ou seja, no dia em que esta empresa deveria ter mostrado o respeito pelos seus trabalhadores, recompensando-os simbolicamente pelo esforço que contribui inegavelmente para os bons resultados económicos da mesma, o Pingo Doce decidiu-se pelo desrespeito pelo Dia do Trabalhador e tudo o que ele significa, negando o direito ao feriado comemorativo e, com requintes de maquiavelismo, castigar os seus trabalhadores com um dos piores dias de trabalho que estes têm memória.

Podem dizer-me que há que olhar com realismo (sendo que realismo é em muitas mentes, ter uma visão ideológica de direita) para o contexto em que vivemos, mas não podemos ignorar também todo o contexto simbólico destes eventos e aquilo que esse nos diz da estratégia político/empresarial que alguns alguns querem implementar no nosso país.

um pequeno pensamento

só para partilhar uma resposta pessoal ao assunto debatido nesta partilha de Facebook > https://www.facebook.com/pedromiguelfilipe/posts/194240597346360

"A ideia de que trabalhar que nem um cão a vida inteira é o pathos de um índivíduo rico é de uma ingenuidade e de uma mundividência tão idológica e programática...


A observação da realidade mostra-nos que nenhum rico deve a sua fortuna ao trabalho canino e constante, mas sim a diversos tipos de factores mais e menos honestos, mas que passam sempre pela criação de valor graças à colaboração e trabalho de muitas outras pessoas quer seja em regime realmente colaborativo ou em condições exploratórias.

Uma análise ainda mais aturada de dados concretos em termos de rácio colaboração/repartição de lucros permitir-te-ia perceber que a esmagadora maioria dos "ricos" (os verdadeiramente milionários ou bilionários) o é pois não distribuiu justamente o lucro das suas empresas pelos restantes intervenientes.

E nem vale a pena falar das fortunas construidas com mecanismos ficanceiro/bancários, através do expediente da usura e expoliação de patrimónios privados ou sociais...

Quando muito os ricos devem pagar exactamente a mesma carga fiscal que todos os outros membros da sociedade, se não mais, de forma a regular as acumulações indevidas."

da subjectividade das opiniões


As últimas declarações de Cavaco Silva, sobre a minguez das suas reformas face às suas contribuições, tornaram-se rapidamente mais um foco de polémica e celeuma e apenas demonstram mais uma vez a falta de relevo que a maioria da sociedade e em especial os actuais políticos, dão à questão da subjetividade.

A subjetividade numa concepção mais simples, refere-se à forma como a opinião de cada ser humano é esmagadoramente influenciada pela sua visão pessoal do mundo, formada pelas suas experiências de vida e pelas realidades que absorveu empiricamente. Nesse sentido Cavaco apenas caiu na armadilha da sua própria subjetividade.

Obviamente que à luz da sua história de vida e estatuto/posição social, os valores económicos são manifestamente parcos e parecerão pouco justos. O problema é que quando emitimos opiniões enquanto representantes políticos de toda uma sociedade, com diferentes condições de vida e sensibilidades, devemos evitar as subjetividades da opinião pessoal e deixar uma perspetiva mais analítica e racional, guiar o nosso discurso.

O problema não é, infelizmente, exclusivo do actual Presidente da República e muitos dos membros do actual governo também demonstram no seu discurso, uma vivência alheada da realidade democrática.

E chamo-lhe realidade democrática, porque é mais provável estarmos face uma noção menos subjectiva do real quando temos em conta as experiências de vida de milhões de pessoas comuns, do que uma noção de realidade baseada na mundividência privilegiada de uma elite político/económica.

E é esse um dos maiores problemas da maioria da direita, uma visão egocêntrica e empírica da realidade que não tem em conta a macro-realidade do mundo como ele é...