VOA 2012

From Up The Poppy Hill



Kokuriko-zaka Kara ou From Up The Poppy Hill é o último filme dos estúdios Ghibli, com argumento de Hayao Miyazaki e Keiko Niwa e realizado por Gorō Miyazaki (sim é filho) que já tinha realizado Tales From the Earthsea em 2006.

Depois de 2 filmes inspirados em histórias ocidentais, Ponyo e The Secret World of Arrietty, Myazaki volta a uma história nostálgica sobre o Japão da segunda metade do século XX, com contornos românticos que em Portugal associaríamos à literatura de Eça de Queiroz, misturados com ingredientes de "idade da inocência" que já fazem parte do seu léxico dramático desde a Heidi e o Marco. Não é um argumento com muitas reviravoltas nem especialmente original mas consegue imprimir ao filme uma grande carga emocional que conjugada com a excelente direcção de arte torna o filme mais um clássico instantâneo.

O filme estreou no Japão em Julho de 2011 e passou por França em Janeiro deste ano, no entanto está previsto para os EUA apenas em 2013 e como normalmente os filmes Ghibli só cá chegam por importação norte-americana (isto se chegarem), não me sinto muito mal em recomendar que façam uma busca pelo torrent com o nome japonês e vejam se no titulo falam em eng subs ;)

E depois logo compram o Blu-Ray quando sair lá para 2013...

o fim da solidariedade



No início desta semana o Álvaro assinou com um cafuné de Pedro Mota Soares, um acordo com a Segurança Social, que dita que os auferintes do RSI e desempregados podem ser requisitados por câmaras, protecção civil e administração interna, para fazerem trabalho de limpeza e protecção das florestas. Isto a troco no caso dos beneficiários de RSI de um pagamento adicional de cerca de 420€ e no caso dos desempregados de uma majoração de 80€ ao seu subsídio (e quem não recebe subsídio?).

Basicamente o governo pretende matar dois coelhos de uma cajadada, pôr um lado arranjar funcionários públicos a custo reduzido (salário mínimo nacional ou menos no caso de quem receba subsídio de desemprego calculado com base no SMN) e sem ter de estabelecer qualquer vínculo laboral e por outro pôr os "parasitas, preguiçosos e indigentes" (usando as nomenclaturas liberais) a trabalhar. Se não quiserem aceitar estes trabalhos forçados então que se amanhem sem os subsídios e assim o estado poupa umas maquias...

Incrivelmente até agora não vi nenhum comentador quer de esquerda quer de direita a tecer uma opinião sobre este acordo que na minha opinião é de uma falta de ética gritante e de moralidade questionável.

Primeiro que tudo em relação aos desempregados estamos perante mais um ataque ideológico ao Estado Social, sem paralelo em qualquer país do mundo, mesmo os mais liberais e amados desta corrente neo-liberal que nos governa actualmente. O subsídio de desemprego não é uma ajuda do estado ao trabalhador, o subsídio de desemprego é um seguro social pago pelo próprio trabalhador ao longo da sua carreira contributiva à Segurança Social (dai o nome) e dai não poderem haver mais contrapartidas à sua atribuição além das regras que foram acordadas em sede do Código Contributivo.

Li em comentários ao artigo, que neste momento o dinheiro das contribuições não chegaria para cobrir as despesas da Segurança Social, o que não passa de uma mentira mal informada ou mal intencionada. Em Janeiro de 2012 o excedente da Segurança Social cifrou-se em 315 milhões de euros (o aumento esmagador do desemprego levou a uma quebra de 428 milhões de euros nesse excedente) o que significa que a Segurança Social continua e continuará a ser 100% financiada pelos trabalhadores (a não ser que a situação ainda seja mais agravada pelas políticas para lá do memorando que são apanágio deste governo). Infelizmente algumas pessoas confundem previsões de ruptura na sustentabilidade da Segurança Social a médio/longo prazo (caso nada seja feito para corrigir a situação) com a realidade do presente.

Por outro lado li quem afirmasse que as contribuições do trabalhador não pagavam nem metade dos subsídios que pode auferir. Esta é uma afirmação que demonstra acima de tudo iliteracia financeira, pois quando fazemos um seguro privado a uma casa também não pagamos em prémio o valor total da mesma. Os seguros são feitos partindo do princípio que a necessidade de reembolsos é limitada a uma percentagem pequena do total de segurados. No caso de uma casa apenas uma pequena percentagem de casas seguradas é alvo de incêndio/inundação ou outras catástrofe que requeira à seguradora o pagamento do valor segurado. Em termos de Segurança Social parte-se do principio que o desemprego é uma ocorrência limitada (não é suposto haver valores de 15% de desemprego numa economia ocidental moderna e democrática) e que a esmagadora maioria dos trabalhadores não irá accionar este seguro contribuindo assim para a cobertura dos subsídios necessários.

Assim sendo temos um governo que pretende colocar o dinheiro da Segurança Social ao serviço de funções do estado que devem ser cobertas por outros impostos. Sinceramente duvido da legalidade deste acordo no que toca aos desempregados e estou certo da imoralidade de colocar o "trabalho socialmente útil" como contrapartida a um subsídio que é direito legal e moral do trabalhador.

Já em relação aos usufruintes de RSI a questão entra mais no campo dos valores e ideais. Na minha opinião sendo um "subsídio solidário" não devem existir quaisquer contrapartidas à posteriori à sua atribuição, se a pessoa não tem rendimentos e cumpre todos os requisitos à sua atribuição então deve ter direito ao mesmo sem mais adendas ou vírgulas. A solidariedade supõe que se presta auxílio ao próximo sem esperar nada em troca, a solidariedade não é um empréstimo nem pode ter facturas escondidas.

Penso que se este governo é anti-solidário deveria acabar com o RSI e instaurar um empréstimo social, em que quem cair na desgraça e tiver de pedir ajuda ao Estado fica sujeito às regras de retribuição que o estado lhe aprouver definir. Ai sim, o beneficiário do empréstimo teria que aceitar qualquer trabalho ou forma de compensação que aceitasse no acto do seu pedido de auxílio.

Por fim, penso que a frase «os desempregados poderão recusar a proposta "caso se tratem de actividades não compatíveis com a sua capacidade física, qualificação ou experiência profissional», revela resquícios de um pensamento elitista e de diferenciação social de classes que remonta ao tempo do outro senhor. Se quisermos ser populistas podemos dizer que isto é a cláusula para que as "pessoas de bem" não sejam obrigadas a fazer desmatações e outros trabalhos pesados. Se quisermos mesmo ser excessivos podemos traçar um claro paralelo com o esclavagista que via os dentes e apalpava os músculos do escravo que ia comprar, para decidir se o comprava e para que trabalho o ia usar...

matar o bicho


A Maudlin Merchandise decidiu fazer um pequeno concurso para produzir amostras de serigrafia em grande formato e apeteceu-me matar o bicho dos concursos.

São apenas pequenas actualizações em trabalhos que já tinham no portfolio mas se gostavam deles e ainda gostavam de me dar a oportunidade de os ver produzidos, basta fazerem um like e partilharem no Facebook o link de algum deles.

Álbum do concurso
https://www.facebook.com/media/set/?set=a.10150773904067377.389083.179192597376&type=1

1 de maio


© Rogério Neves

Já muito foi, está a ser e será dito sobre a campanha de desconto de 50% que o Pingo Doce decidiu fazer no Dia do Trabalhador.

A mim nem me espanta muito o caos gerado numa altura em que, mesmo quem não passa pelas dificuldades do desemprego ou de um salário mínimo nacional, está num constante pânico devido à realidade de uma crise, mas mais gravemente a uma estratégia propagandista do actual governo, que tudo faz para culpabilizar os cidadãos pelo estado de coisas e para instigar um clima de medo, de forma a controlar as sublevações e a indignação social.

Nem de propósito Passo Coelho discursa na manhã deste 1º de Maio, avisando os portugueses para que eles se preparem para viver com um desemprego nunca antes visto. Este discurso negativista e desmotivador, visa claramente incutir nos trabalhadores, descontentes com a perca ou a ausência de direitos, um sentimento de resignação motivado pelo receio de perderem o trabalho e remunerações que ainda têm, numa altura em que o mercado de trabalho se encontra numa disfuncionalidade, de que ninguém nascido após os anos 70 do século passado se recorda.

Voltando ao Pingo Doce e sem falar de assuntos que terão de ser analisados pelas autoridades competentes (ASAE e Autoridade para as Condições do Trabalho), esta promoção decidida para o dia em que decorreu, é de um significado simbólico muito grave.

Além todas as pressões e chantagens, que foram denunciadas pelos sindicatos e trabalhadores, para negar o direito ao feriado a quem já tinha decidido que o iria gozer, o Pingo Doce decidiu criar um dia de inferno para os seus trabalhadores, o que para aqueles que não trabalharam de livre iniciativa, se tornou um duplo castigo.

Ou seja, no dia em que esta empresa deveria ter mostrado o respeito pelos seus trabalhadores, recompensando-os simbolicamente pelo esforço que contribui inegavelmente para os bons resultados económicos da mesma, o Pingo Doce decidiu-se pelo desrespeito pelo Dia do Trabalhador e tudo o que ele significa, negando o direito ao feriado comemorativo e, com requintes de maquiavelismo, castigar os seus trabalhadores com um dos piores dias de trabalho que estes têm memória.

Podem dizer-me que há que olhar com realismo (sendo que realismo é em muitas mentes, ter uma visão ideológica de direita) para o contexto em que vivemos, mas não podemos ignorar também todo o contexto simbólico destes eventos e aquilo que esse nos diz da estratégia político/empresarial que alguns alguns querem implementar no nosso país.

um pequeno pensamento

só para partilhar uma resposta pessoal ao assunto debatido nesta partilha de Facebook > https://www.facebook.com/pedromiguelfilipe/posts/194240597346360

"A ideia de que trabalhar que nem um cão a vida inteira é o pathos de um índivíduo rico é de uma ingenuidade e de uma mundividência tão idológica e programática...


A observação da realidade mostra-nos que nenhum rico deve a sua fortuna ao trabalho canino e constante, mas sim a diversos tipos de factores mais e menos honestos, mas que passam sempre pela criação de valor graças à colaboração e trabalho de muitas outras pessoas quer seja em regime realmente colaborativo ou em condições exploratórias.

Uma análise ainda mais aturada de dados concretos em termos de rácio colaboração/repartição de lucros permitir-te-ia perceber que a esmagadora maioria dos "ricos" (os verdadeiramente milionários ou bilionários) o é pois não distribuiu justamente o lucro das suas empresas pelos restantes intervenientes.

E nem vale a pena falar das fortunas construidas com mecanismos ficanceiro/bancários, através do expediente da usura e expoliação de patrimónios privados ou sociais...

Quando muito os ricos devem pagar exactamente a mesma carga fiscal que todos os outros membros da sociedade, se não mais, de forma a regular as acumulações indevidas."

da subjectividade das opiniões


As últimas declarações de Cavaco Silva, sobre a minguez das suas reformas face às suas contribuições, tornaram-se rapidamente mais um foco de polémica e celeuma e apenas demonstram mais uma vez a falta de relevo que a maioria da sociedade e em especial os actuais políticos, dão à questão da subjetividade.

A subjetividade numa concepção mais simples, refere-se à forma como a opinião de cada ser humano é esmagadoramente influenciada pela sua visão pessoal do mundo, formada pelas suas experiências de vida e pelas realidades que absorveu empiricamente. Nesse sentido Cavaco apenas caiu na armadilha da sua própria subjetividade.

Obviamente que à luz da sua história de vida e estatuto/posição social, os valores económicos são manifestamente parcos e parecerão pouco justos. O problema é que quando emitimos opiniões enquanto representantes políticos de toda uma sociedade, com diferentes condições de vida e sensibilidades, devemos evitar as subjetividades da opinião pessoal e deixar uma perspetiva mais analítica e racional, guiar o nosso discurso.

O problema não é, infelizmente, exclusivo do actual Presidente da República e muitos dos membros do actual governo também demonstram no seu discurso, uma vivência alheada da realidade democrática.

E chamo-lhe realidade democrática, porque é mais provável estarmos face uma noção menos subjectiva do real quando temos em conta as experiências de vida de milhões de pessoas comuns, do que uma noção de realidade baseada na mundividência privilegiada de uma elite político/económica.

E é esse um dos maiores problemas da maioria da direita, uma visão egocêntrica e empírica da realidade que não tem em conta a macro-realidade do mundo como ele é...