o facto consumado

Nos últimos dias/semanas/anos temos sido confrontados com uma cada vez mais presente ideia de propaganda económica, o fim do Estado Social. Ainda ontem numa breve passagem pela televisão nacional testemunhei o profissional incontestado do "achismo", Miguel Sousa Tavares, a fazer uma bela analogia em que as lágrimas de uma ministra italiana simbolizavam a morte do Estado Social e algum tempo mais tarde tive o infortúnio de ouvir o Deus nacional das "evidências inalteráveis e supremas", Medina Carreira, a explicar aos coitadinhos dos portugueses que as reformas iam acabar e que quem dissesse o contrário era aldrabão e mentiroso.

Do alto da minha pequenez, gostava de deixar uma lembrança a estes e outros senhores que começam já a festejar um antecipado bacanal liberal, que nunca os romanos imaginaram o colapso do seu império, que a um certo monarca francês nunca lhe passou pela cabeça acabar a vida sem a mesma e que até cá pelas nossas terras, não se esperava que um grupo de militares acabasse num dia, com décadas de fascismo.

Não estou a falar de revoluções iminentes, mas sim, de algo que a história ensina aqueles que se dignam a estudá-la. Nas sociedades humanas não existem caminhos inevitáveis, factos consumados ou becos-sem-saída.

O Estado Social tem a sua hora da morte agendada pelos seus detractores desde a sua criação, mas tal não aconteceu ainda porque quem decide a sua manutenção ou destruição é a sociedade através da expressão democrática da vontade soberana dos seus membros. Duvido que a vontade dos cidadãos europeus seja aniquilar uma das suas maiores conquistas civilizacionais, em troca de uma "selva dos mercados" que representa um regresso às condições sociais do tempo da Revolução Industrial.

Há sempre alternativa e quem diz o contrário, esse sim, é mentiroso.

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