1 de maio


© Rogério Neves

Já muito foi, está a ser e será dito sobre a campanha de desconto de 50% que o Pingo Doce decidiu fazer no Dia do Trabalhador.

A mim nem me espanta muito o caos gerado numa altura em que, mesmo quem não passa pelas dificuldades do desemprego ou de um salário mínimo nacional, está num constante pânico devido à realidade de uma crise, mas mais gravemente a uma estratégia propagandista do actual governo, que tudo faz para culpabilizar os cidadãos pelo estado de coisas e para instigar um clima de medo, de forma a controlar as sublevações e a indignação social.

Nem de propósito Passo Coelho discursa na manhã deste 1º de Maio, avisando os portugueses para que eles se preparem para viver com um desemprego nunca antes visto. Este discurso negativista e desmotivador, visa claramente incutir nos trabalhadores, descontentes com a perca ou a ausência de direitos, um sentimento de resignação motivado pelo receio de perderem o trabalho e remunerações que ainda têm, numa altura em que o mercado de trabalho se encontra numa disfuncionalidade, de que ninguém nascido após os anos 70 do século passado se recorda.

Voltando ao Pingo Doce e sem falar de assuntos que terão de ser analisados pelas autoridades competentes (ASAE e Autoridade para as Condições do Trabalho), esta promoção decidida para o dia em que decorreu, é de um significado simbólico muito grave.

Além todas as pressões e chantagens, que foram denunciadas pelos sindicatos e trabalhadores, para negar o direito ao feriado a quem já tinha decidido que o iria gozer, o Pingo Doce decidiu criar um dia de inferno para os seus trabalhadores, o que para aqueles que não trabalharam de livre iniciativa, se tornou um duplo castigo.

Ou seja, no dia em que esta empresa deveria ter mostrado o respeito pelos seus trabalhadores, recompensando-os simbolicamente pelo esforço que contribui inegavelmente para os bons resultados económicos da mesma, o Pingo Doce decidiu-se pelo desrespeito pelo Dia do Trabalhador e tudo o que ele significa, negando o direito ao feriado comemorativo e, com requintes de maquiavelismo, castigar os seus trabalhadores com um dos piores dias de trabalho que estes têm memória.

Podem dizer-me que há que olhar com realismo (sendo que realismo é em muitas mentes, ter uma visão ideológica de direita) para o contexto em que vivemos, mas não podemos ignorar também todo o contexto simbólico destes eventos e aquilo que esse nos diz da estratégia político/empresarial que alguns alguns querem implementar no nosso país.

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