12 de março
© Nataniel Rosa
No passado dia 12 de Março não pude deixar de estar na manifestação da "Geração à Rasca", foi a primeira vez que me manifestei, exatamente porque foi a primeira manifestação apartidária (?) que se realizou desde que sou gente, sem instrumentalizações e agendas de terceiros que acabam por abafar a mensagem da precariedade e da exploração laboral em Portugal.
Dizem os media e quem já esteve noutras manifestações, que foi uma das maiores manifestações que o nosso país já viu e que apesar da ausência de organização, foi um exemplo de civismo. Sobre a primeira observação por ser virgem nas mesmas não tinha na altura essa noção apesar de a dimensão ter em muito ultrapassado as minhas expectativas (esperava quando muito 5 mil ou 10 mil pessoas).
Já quanto ao civismo sou testemunha de que tudo correu sem incidentes e que mesmo tendo havido tentativas no sentido de pôr a multidão a gritar contra Sócrates ou o governo, a maioria esmagadora teve o bom senso de saber que não era parra isso que ali estávamos, aliás a passar-se o contrário teria abandonado imediatamente a manifestação, até porque não é novidade para ninguém (de quem vai seguindo o que escrevo online e o que digo no mundo real) que desde as últimas eleições apoio o actual Primeiro Ministro, sem medo das boquinhas mais ou menos foleiras ou de outras consequências que levam os milhões que votaram PS a manterem-se incógnitos nas suas vidas quotidianas. O que se calhar nunca referi (pois ainda não escrevia regularmente online) é que não votei Sócrates na primeira legislatura, aliás até 2009 era votante do Bloco de Esquerda... e as razões para mudar foram tanto o aumento dos meus conhecimentos políticos, como o afastamento da incoerência e irresponsabilidade de um partido que diz que não que ser governo, só oposição.
Mas voltando ao importante, repetiram-se nos media e blogues tentativas de descredibilizar a manifestação quer em número, quer insinuando que a mesma partiu dos partidos da esquerda mais rígida. Os números são discutíveis, basta sabermos que foi muito maior que se esperava e maior que as manifestações sindicais, mas tentar colar a mesma ao BE e ao PCP não é mais que distorcer a realidade e perder objetividade... até porque a única força que aproveitou politicamente a manifestação foi o PSD, quer através do discurso de tomada de posse de Cavaco Silva, quer durante a mesma, pela mão da JSD (sem qualquer identificação) que distribuiu uma mensagem política camuflada numa nota falsa de 500€ com a cara de Sócrates.
Outro dos comentários mais ouvidos foi direcionado à ausência de resultados práticos desta manifestação... a isto só posso responder que o resultado mínimo expectável foi conseguido antes da mesma, a situação da precariedade dos jovens e menos jovens nunca foi tão falada nos media e na praça pública. Até há muito pouco tempo quase nunca se via uma reportagem ou um comentário sobre falsos recibos verdes e estágios não-remunerados, alias se calhar muitos portugueses nem sabiam o que estes termos significavam. Nas últimas semanas não se fala de outra coisa em Portugal, finalmente o problema saiu debaixo da peneira e isso foi já uma grande vitória só por si.
Mais, temos e vamos assistir mais a várias iniciativas que apesar de tímidas e de efeitos pouco certos, são positivas, como a proibição dos estágios não-remunerados (que já eram ilegais por omissão legislativa) ou o aumento de casos detectados por parte da Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT), com a mudança do presidente desta instituição. Não nos enganemos, isto não chega e mais há para fazer, na minha óptica apostando mais na fiscalização e na melhoria radical do funcionamento dos Tribunais do Trabalho. E vamos descobrindo a agenda do PSD, demonstrada nas medidas que sugeriram ultimamente para "resolver" a precariedade, desde o contrato de trabalho temporário verbal (se isto não significa trabalho a soldo não sei o que é), até ao fim da renovação automática dos mesmos contratos, só para citar duas pérolas.
Mas talvez o mais importante de tudo tenha sido o despertar dos políticos para o afastamento cada vez maior entre a sociedade civil cada vez mais individualista e aberta e os partidos que continuam a ser estruturas relativamente fechadas e extremamente dependentes de uma hierarquização. É extremamente positivo ver Francisco Assis e Morais Sarmento (no programa Contrastes desta semana na SIC Notícias) com a perfeita noção do verdadeiro significado e importância da manifestação de 12 de Março... o primeiro passo para a mudança é sabermos o que está errado.
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