o mistério do mistério da estrada de sintra
Sendo um fã de linha dura de Eça de Queirós (de tal modo que tenho pela primeira vez desejo de ver um filme do Manuel de Oliveira, graças ao facto de este ser uma adaptação do Singularidades de Uma Rapariga Loira) desde que ouvi falar no filme O Mistério da Estrada de Sintra, que fiquei logo em pulgas para o ver. Sendo um filme português e não tendo tantas hipóteses de ir ao cinema como gostaria acabei por falhar a experiência de sala mas com o dinheiro no natal no bolso e o DVD por apenas 15€ na FNAC não consegui resistir.
O filme realizado por Jorge Paixão Costa, não é uma simples adaptação do livro mas uma ficção sobre a verdadeira história que inspirou o mesmo, misturando as cenas do folhetim com um enredo em que se acompanha o processo de escrita do mistério e o desenrolar do verdadeiro mistério. O Ivo Canelas interpreta de uma forma fantástica um Eça de Queirós credível, um homem orgulhoso, obstinado e ligeiramente obsessivo compulsivo, a quem o Ramalho de António Pedro Cerdeira consegue conferir algum juízo e propósito, o suficiente para que Eça viesse a escrever, para mim, os melhores romances do realismo que existem, sem cair num fatalismo que eventualmente caracterizaria a geração dos Vencidos da Vida.
A mim a personagem diz-me muito, porque sempre senti alguma familiaridade com a maneira de pensar e ser do Eça e esta interpretação está muito próxima da ideia que sempre tive. Eventualmente algumas pessoas que me conhecem melhor ao verem o filme vão rir-se com a semelhança na fleuma com que também eu reajo à crítica...
É de destacar o excelente trabalho de direcção fotográfica e musical acima do habitual no cinema nacional e os pormenores bem conseguidos de recriação dos ambientes e das roupas novecentistas. É obra filmar na Lisboa de hoje e no ecrã sermos transportados para o século anterior sem qualquer cepticismo.
Só ao nível do design associado ao filme é que fico algo desiludido, não porque seja muito mau, mas porque um filme tão bom merecia um design ao mesmo nível, a começar pelo próprio cartaz e a acabar nos menus do DVD em que a escolha tipográfica é como diria o Eça - Fraquinha, fraquinha... - até um designer imberbe como eu conseguiria esmiuçar melhor, até porque há no filme uma grande qualidade a nível de trabalho caligráfico e as fotos usadas são óptimas.
Mais no site oficial:
http://www.filmesfundo.com/omisteriodaestradadesintra
PS: Se eu conseguísse apanhar um Ramalho para me pôr a fazer uma série de designs que já imaginei para ilustrar alguns livros do Eça... é que na cabeça já está há uns meses, falta a prática que é onde nós falhamos sempre...
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