os maias no trindade
©Clementina Cabral/Teatro da Trindade
Antes de tudo, não sou crítico nem conhecedor de teatro e esta é provavelmente a segunda vez que escrevo sobre uma peça (tenho neste blog um texto sobre A Tragédia de Júlio César no São Luís) e dessa forma esta opinião pode ser, por quem o desejar, invalidada logo à partida.
Assisti no sábado passado à representação Os Maias no Trindade, que como entusiasta que sou de Eça não podia deixar a peça sair de cena sem a ver.
Primeiro que tudo, manifesto o meu desagrado pelo facto de nas laterais do primeiro balcão não se conseguir ver mais de metade do palco, facto que na compra do bilhete foi propositadamente omitido, apesar de a questão ter sido frisada (fica o aviso para quem queira assistir a espetáculos no Trindade).
O argumento em si é relativamente bem conseguido (não sendo eu, um purista das adaptações à letra...), sendo que se torna algo confuso para aqueles que só conhecem a obra pelo nome, ou que o leram há demasiado tempo, pois utiliza uma narrativa in media res, com avanços e recuos na cronologia do romance que talvez exponham demasiado o pathos do drama antes do tempo. E não sendo já fragilizadora essa escolha, o tom cómico transversal da peça (justificável para o público-alvo desta sala) acaba por sabotar o tom romântico/dramático das cenas entre Maria Eduarda (Sofia Duarte Silva) e Carlos Eduardo (José Fidalgo), tornando-as quase acessórias (já de si ocupam pouco tempo da peça).
E de facto, é como comédia que estes Maias atingem os pontos mais altos, como a genial declamação do Anjo da Caridade por Rufino (João Didelet), a excelente interpretação do José Airosa na pele do terror de Celorico, João da Ega ou a caricatura perfeita do "chic a valer" de Dâmaso pelo Pedro Górgias (na foto), que compensa a dieta face à personagem caracterizada por Eça.
Todo este riso acaba por ofuscar os restantes actores e tornar a sua tarefa, ao mudar o tom da cena, muito complicada, caso óbvio de Afonso da Maia (Augusto Portela) que apesar da enorme importância na história aparece ofuscado logo no início por um Pedro da Maia que provoca risos no momento do suicídio (?!). No entanto Rogério Vieira consegue tornar o seu Alencar uma personagem cómica mas momentos depois séria e forte (sorte no papel também). O pianista Afonso Malão (na foto), também director musical aparece numa caricatura menos feliz de um maestro Crugges com uma cabeleira cinzenta, que acaba por dificultar a vida de um não-actor a tentar dramatizar.
Apesar de tudo é graças ao piano em cena e ao vivo que a musicalidade da peça não se torna uma desgraça completa, com entradas de música despropositadas e escolhas musicais que mais parecem uma tentativa de fazer uma enciclopédia de época, que contribuir para a emotividade das cenas.
O único momento que considero um falhanço total é o final da peça, em que Manuel Torrado ou não tem consciência da intenção queirosiana, de colocar Carlos e Ega a proclamarem um estoicismo orientalizante, declarando que "não voltarão a correr atrás de nada", para no momento seguinte ao avistarem o Americano, entrarem imediatamente em contradição correndo sofregamente na sua direcção (também uma crítica ao Portugal que corria e corre atrás dos outros países), ou decide ignorá-la. Em vez disso, coloca as personagens estáticas olhando a luz ao fundo, deixando a peça a morrer em vez de aproveitar para terminar em climax com uma saída de palco, lógica e narrativamente expectável...
Não iria ao exagero de utilizar o "Fraquinho, fraquinho..." que o próprio Eça não hesitaria utilizar para classificar a peça, mas penso que com todo o potencial de actores e da obra adaptada o resultado é, na minha opinião, mediano no seu todo, apesar de não puder negar que me ri a bom rir e por isso não penso que tenha sido de todo negativo o tempo despendido.
Mais informações:
http://teatrotrindade.inatel.pt/osmaias.html
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